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GOLFO PÉRSICO - OS REIS DO PETRÓLEO

by Carlos Guedes | 23:56 in |

GOLFO PÉRSICO - OS REIS DO PETRÓLEO

Por Mauro Kahn e Pedro Nobrega



Quando falamos em Golfo Pérsico, se com relação ao petróleo o que temos diante de nós é um verdadeiro império de reservas (cinco das maiores do mundo estão ali), em termos políticos estamos diante de um complexo amálgama de posicionamentos. Enquanto os países árabes mantêm um peculiar alinhamento com os EUA, o Iraque permanece um enigma e o Irã coloca-se em firme oposição à política ocidental. Nesta equação, o único elemento constante é o petróleo, e a possibilidade de equilíbrio entre as partes muito difícil de obter.

É sabido que, desde as primeiras décadas do século passado, os países do Golfo Pérsico já se estabeleciam como grandes produtores. A princípio, o investimento estrangeiro foi recebido com passividade. No entanto, a medida que os Estados se familiarizavam com a produção do petróleo, começavam também a enxergar a possibilidade de lucrar sem a incômoda interferência estrangeira. E neste momento os conflitos tornaram-se inevitáveis.

Além das primeiras crises do petróleo, o movimento de criação da OPEP (Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kwait, Emirados Árabes e Catar pertencem ao grupo) e o endurecimento dos governos regionais foram os desencadeadores da situação geopolítica que perdura até hoje (com momentos de maior e menor tensão). A primeira ação de grande impacto da OPEP foi aquela que desencadeou a segunda crise do petróleo, quando – devido ao apoio americano à Israel na Guerra do Yom Kippur – os países-membros da organização decidiram aumentar em 300% o preço do petróleo. Em 1979, a Revolução Iraniana (que derrubou o Xá Reza Pahlevi, maior aliado americano) sedimentou de vez os caminhos para o anti-americanismo na região, o qual existe até mesmo dentro de países aliados (vale lembrar que Bin Laden é saudita).

Como já foi dito anteriormente, o Golfo Pérsico conta com uma boa parte das reservas do mundo, o que torna impossível um imediato desligamento dos consumidores em relação à região. Novas alternativas – como o Canadá, o Brasil e o Mar Cáspio – parecem boas, mas ainda devem ser desenvolvidas e sempre com um custo de produção bem mais elevado do que no Oriente Médio. Isso sem contar com as reservas ainda não descobertas: apenas no Iraque, projetam-se 100 bilhões de barris em reservas ocultas. Dentro do Golfo Pérsico em si também é bastante provável que exista um bom número de reservas, embora a exploração atual não seja muito intensa (graças à grande quantidade de petróleo em terra). Deduzimos esta afirmativa por puro bom senso: uma vez que há tantas reservas provadas no Mar Cáspio, é natural que existam também em águas tão próximas. A situação do Golfo Pérsico é paralela à dos campos de Baku e Grozny no início do século XX (grandes reservatórios em terra, bem próximos ao mar). Outro facilitador da região é a rasa profundidade: o Golfo Pérsico apresenta uma lâmina d'água sempre inferior a 100 m (a média é de 50m, contra 184m do Mar Cáspio).

Nos últimos tempos, a tensão no Iraque parece estar diminuindo, o que pode proporcionar um largo aumento na produção do país e torná-lo um ponto chave para os interesses ocidentais. O Iraque, além de fantásticas reservas (melhor R/P do mundo), possui um posicionamento geográfico bastante estratégico. De um lado está a Turquia, país com o qual os EUA estão firmando diversos acordos para construção de dutos que permitirão o transporte do petróleo até o Mar Mediterrâneo (os americanos pretendem ainda construir dutos na Arábia Saudita, objetivando escoar o petróleo árabe até o Mar Vermelho). Do outro lado está o Irã, país a partir do qual há muitos anos vem surgindo os maiores problemas da região.

É fundamental para o governo do Iraque também chegar a um entendimento com o governo do Kwait para que seja desenvolvido o potencial iraquiano, pois as condições de escoamento através do Golfo Pérsico são limitadas para o país: o Iraque conta apenas com o delta do rio Shatt Al Arab para a exportação de seu petróleo por via marítima (a situação é problemática porque uma das margens do rio pertence ao Irã). Importante lembrar que esta dificuldade logística já foi no passado uma das motivações do Iraque para invadir o Kwait, o qual muitos iraquianos sempre viram como uma extensão natural de seu território.


Por mais que a instabilidade seja uma marca até mesmo dentre aliados dos EUA, como a Arábia Saudita, é o Irã que de fato gera a maior parte do mal estar global em relação à região do Golfo Pérsico. Para “agravar” a posição do Ocidente, o país parece deter a chave de todas as portas. De um lado, mantém relações amigáveis com a Turquia, o que lhe permite um acesso ao mercado europeu; de outro, está posicionado entre o Mar Cáspio e o Golfo Pérsico, com bilhões de reservas a serem exploradas em ambos os mares; por outro ainda, o país é aliado do Turcomenistão, uma possível rota para a China; e por final, o país exerce controle sobre o Estreito de Ormuz, onde passa a maior parte do petróleo que deixa o Golfo Pérsico por mar.


Um dos maiores temores, tanto dos produtores da região quanto dos consumidores do Ocidente, é que o Irã venha a fechar ou sabotar o Estreito de Ormuz, o que levaria a um prejuízo inestimável. Para Teerã, bastaria bloquear todo o estreito com navios e pequenas embarcações (em sinal de protesto, por exemplo) para atrapalhar a navegação dos petroleiros e causar saltos elevados na cotação do barril de petróleo.


Estando em jogo tanta riqueza, a aposta de risco em uma região como o Golfo Pérsico leva os investidores a se dependurarem sobre a velha questão: produzir barato ou comercializar em paz? Afinal, até que ponto é possível conciliar os dois?

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