O Brasil na rota dos Petrodólares
Por Mauro Kahn & Pedro Nobrega
Há alguns anos seria difícil imaginar que o Brasil, ainda buscando arduamente a auto-suficiência em petróleo (depois de ter passado a década de 80 com uma balança comercial estraçalhada por altas consecutivas na cotação do “ouro negro”), agora estaria na mira dos investidores internacionais, com perspectivas de receber investimentos de dezenas de bilhões de dólares. Em trinta anos, o país viveu uma verdadeira “virada de mesa”, colocando-se entre uma das mais promissoras economias deste século.
No conturbado princípio dos anos 80, eram os produtores da OPEP que davam todas as cartas quando o assunto era petróleo. O Mar do Norte estava ainda começando a se projetar, a Rússia pouco influenciava, os produtores africanos eram uma incógnita e nós não conhecíamos sequer o potencial da Bacia de Campos (quanto mais as promessas do Pré-sal!).
Naquela época, o Brasil estava modernizando o seu parque de refino, mas até aí nada havia de promissor, pois os anos seguintes seriam marcados por uma forte ociosidade no parque de refino mundial. Toda a conjuntura parecia jogar contra os interesses brasileiros e a formação do BRIC não era nem mesmo uma suposição.
Mas foi durante aqueles mesmos anos que o mundo começou a dar sinais de uma discreta revolução. Renascido das cinzas após a Segunda Grande Guerra, o Japão confirmou seu potencial e se projetou de maneira inesperada. Era o primeiro sinal de um novo contexto econômico, que a princípio passou despercebido em importância e que vem se consolidando durante este milênio. Hoje podemos dizer que são os mesmos japoneses, justamente somados ao BRIC e à Coréia do Sul, que tem contribuído primordialmente para o aumento do consumo de derivados do petróleo. Foi esta situação, aliás, que permitiu uma especulação sem precedentes em relação ao petróleo, levando o barril a US$ 145,00 em meados de 2008.
Com a crise internacional, as cotações naturalmente despencaram, causando um “contra-choque”. A desaceleração da economia também reduziu o consumo dos derivados, no entanto as estimativas sugerem que a queda não foi muito além dos 10% (na média mundial). Evidentemente, esta queda vertiginosa nas cotações – não sendo acompanhada por uma queda de mesma proporção no consumo – acabará gerando novas especulações, que mais uma vez puxarão as cotações para cima. Devemos lembrar que os especuladores continuam vivos e que, conforme já pudemos constatar, esta crise não é tão forte quanto a princípio se desenhava. Apesar de todo o alarde, o mundo começa a ensaiar uma recuperação.
Não seria de se espantar que esta recuperação começasse justamente na Ásia, a região do planeta com mais fome de petróleo. Quando as centenas de milhões de consumidores voltarem a ter poder de compra, é inclusive um risco bastante presente que o consumo exploda e anule todas as estimativas de “consumo controlado” e “preços em baixa”. Japoneses e chineses já perceberam que, a longo prazo, faltará cru e – principalmente – capacidade de refino ao redor do mundo. O Japão não têm mais onde construir suas novas refinarias; lhes falta espaço e sobra poluição. A China corre, construindo as maiores e mais modernas refinarias do mundo e procurando por todo o petróleo que puder comprar ou se associar.
Enquanto os chineses voltam os dois olhos para a África, os japoneses incluem o Brasil na rota de seus investimentos na Indústria do Petróleo. Os países tentam se precaver para não cair na situação dos EUA, que apesar de deterem a maior parte das refinarias no mundo, assistem ao declínio de suas reservas e ainda têm de lidar com uma conturbada e azeda relação junto ao governo venezuelano (sem contar com as reservas de petróleo mexicanas, as quais declinam dia após dia).
Dentro deste contexto, mesmo que o barril do petróleo se situe apenas em uma faixa de US$ 60,00 a US$ 70,00, que já seria suficiente para viabilizar a maioria dos nossos projetos, sendo por isto que ninguém mais duvida da capacidade do Brasil. Com uma nova Indústria do Petróleo, extremamente verticalizada (indo do poço ao posto), o país ainda pode confirmar o contínuo crescimento não só de suas reservas como também de seu mercado consumidor. Dentro de um ambiente favorável como este, é natural que o Brasil ambicione significativos investimentos no seu “upstream”, assim como em seu “downstream”. Precisamos, é claro, nos preparar para os desafios que teremos de enfrentar no caminho para o nosso prêmio.
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